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Hidradenite supurativa

Por: Dra. Renata Belotto

A hidradenite supurativa é uma doença inflamatória dos folículos pilosos e estruturas associadas. Tem caráter crônico, com crises recorrentes e efeitos debilitantes, podendo causar impacto severo na qualidade de vida da pessoa que desenvolve estágios graves.

É uma doença dermatológica, também conhecida como acne inversa, acne conglobata ou doença de Verneuil. Embora seja do interesse da dermatologia, as mulheres, que são as mais afetadas por essa patologia, podem chegar ao diagnóstico e encontrar possibilidades de tratamento na clínica ginecológica.

A hidradenite supurativa é caracterizada pela presença de nódulos — inicialmente, similares a pelos encravados — em regiões de dobras no corpo. A localização típica das lesões inclui: axilas, virilha, dobras inter e inframamárias, regiões glútea, genital, perineal e perianal.

A inflamação dos folículos pilosos está associada a um distúrbio na produção de células sebáceas e consequente infecção por bactérias. A contaminação acontece por proximidade, desencadeando a oclusão folicular e a formação de abscessos (coleção de pus), fístulas (conexões anormais entre duas estruturas), drenagem de secreção e cicatrizes.

Em casos agravados, os nódulos são dolorosos e a presença de pus tem odor fétido, tornando a doença fortemente impactante. Assim, pessoas com hidradenite supurativa também apresentam prejuízos psicológicos, visto que podem vivenciar situações constrangedoras e enfrentar dificuldades pessoais, sexuais, sociais e profissionais, chegando a estados de ansiedade, depressão e isolamento social.

Quais são as causas de hidradenite supurativa?

Essa doença ainda é de etiologia mal compreendida, mas acredita-se que seja de causa multifatorial, pois é influenciada por fatores intrínsecos, como predisposição genética, e fatores extrínsecos, como atrito mecânico (mais frequente em pessoas obesas), tabagismo e uso de determinados medicamentos.

A hidradenite supurativa se manifesta após a puberdade, sendo mais frequente em mulheres antes da menopausa — portanto, acredita-se também que tenha relação com alterações hormonais, às quais a população feminina é mais suscetível.

Nas mulheres, as lesões aparecem principalmente nas regiões da axila, virilha e sob as mamas. Quando os homens são afetados, a doença se manifesta mais nas regiões glútea e perianal, além da nuca e região retroauricular.

A hidradenite supurativa pode ser considerada uma doença autoinflamatória, uma vez que ocorre uma resposta inflamatória exacerbada que causa danos na pele e nas estruturas associadas.

Entre os fatores de risco, os mais apontados são: obesidade, tabagismo e história familiar da doença.

Quais são os sinais e sintomas de hidradenite supurativa?

Nas crises de hidradenite supurativa, aparecem nódulos ou caroços inflamados, dolorosos e que podem se romper, eliminando secreção purulenta. Essas lesões podem persistir e recidivar, ou seja, podem inflamar e desinflamar no mesmo local, ocasionando cicatrizes que, dependendo do local em que se desenvolvem, dificultam até os movimentos.

A hidradenite supurativa é uma doença que evolui em crise e provoca recorrência das inflamações locais, bem como novos pontos de inflamação por proximidade. Nos casos mais graves, há uma total deformidade anatômica na região afetada.

As lesões típicas podem ser únicas ou múltiplas, com pus ou não, com trajetos fistulosos ou não. A presença de comedões (cravos) também é possível. Além disso, quando há lesões antigas, surgem cicatrizes, que podem ser atróficas, hipertróficas, avermelhadas ou com outro aspecto.

Como é feito o diagnóstico de hidradenite supurativa?

O diagnóstico dessa doença é clínico. Geralmente, a paciente procura ajuda no pronto-atendimento, quando as lesões estão dolorosas e drenando pus. No entanto, muitas vezes, os médicos de pronto-socorro têm dificuldade de chegar ao diagnóstico correto.

Na consulta com um especialista, a avaliação diagnóstica é baseada na apresentação clínica da doença, incluindo as lesões com características típicas e em locais específicos. Nesse sentido, há 3 critérios para o diagnóstico:

  • história de lesões recorrentes (dolorosas ou supurativas) mais de 2 vezes em 6 meses;
  • localização típica das lesões, como as já mencionadas (axilas, virilhas, dobras inframamárias, entre outras);
  • lesões características, como nódulos inflamados, abscessos e cicatrizes.

A avaliação da apresentação clínica segue como principal base para o diagnóstico da hidradenite supurativa, pois ainda não existem análises laboratoriais específicas para isso. Contudo, embora não seja conclusivo, um exame de sangue pode revelar altos níveis de proteína C-reativa e velocidade aumentada de hemossedimentação em pacientes com essa doença inflamatória.

Quanto a exames de imagem, a ultrassonografia da pele com transdutor de alta frequência e a ressonância magnética podem avaliar a profundidade dos abscessos, a extensão das fístulas e o acometimento das estruturas adjacentes.

Como tratar a hidradenite supurativa?

O tratamento depende da gravidade das lesões e pode incluir: medidas de suporte, mudanças de hábitos (como perda de peso e abstenção de tabaco), uso de medicamentos para controle da dor e combate à infecção, intervenção cirúrgica e terapias fotônicas.

A intervenção medicamentosa é feita com fármacos tópicos, como corticoides intralesionais, e antibióticos orais, além de agentes biológicos. Em casos avançados, pode ser preciso realizar a drenagem dos abscessos e a excisão cirúrgica da área lesionada.

As terapias fotônicas são importantes alternativas no tratamento da hidradenite supurativa e de outras doenças ginecológicas. A terapia fotodinâmica (PDT), em específico, é indicada nesses casos, devido ao seu potencial de ação antimicrobiana.

No tratamento cirúrgico convencional dessa condição agravada, realiza-se a excisão da pele para remover todas as glândulas sebáceas infectadas. A dificuldade maior está na recuperação da paciente, que precisa deixar a região aberta para cicatrizar por segunda intenção (sem suturas), visto que, se fechar, pode infectar novamente.

A terapia fotodinâmica é uma abordagem não invasiva, portanto, não há excisões, retirada de tecidos e feridas cirúrgicas. Consiste no uso de um fármaco fotossensibilizante, que é aplicado sobre a região lesionada e, na presença de oxigênio molecular e uma fonte de luz em comprimento de onda específico (com LED ou laser de baixa potência), promove efeitos curativos.

Entre os efeitos da terapia fotodinâmica estão a ação: antibacteriana, anti-inflamatória, analgésica, cicatrizante e de renovação tecidual. Portanto, uma alternativa importante de tratamento para pacientes com hidradenite supurativa e várias outras doenças dermatológicas e ginecológicas.

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