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Dor na vulva

Por: Dra. Renata Belotto

Dor na vulva e prurido (coceira) são os sintomas principais de enfermidades vulvares. Podem ser manifestações clínicas de doenças inflamatórias, desordens imunológicas, distúrbios metabólicos, neoplasias e outras condições. Por vezes, a etiologia não é esclarecida, mas, independentemente das causas, são sintomas que prejudicam o bem-estar da mulher, repercutindo em sua função sexual e qualidade de vida.

A vulva é a parte externa da genitália feminina, compreende os grandes e pequenos lábios, clitóris, vestíbulo e Monte de Vênus ou monte púbico. Essa região é sede de várias afecções locais ou de manifestações de doenças sistêmicas.

A dor na vulva pode estar associada a diversas doenças ginecológicas. No entanto, quando o sintoma é crônico e não explicado por outras causas orgânicas, classifica-se a dor vulvar como vulvodínia.

Como afeta uma parte do corpo feminino ainda cercada de tabus e desinformação — tanto pelas mulheres quanto por alguns profissionais de saúde —, a dor na vulva, muitas vezes, é mal diagnosticada. O tratamento também representa um desafio.

Dessa forma, as mulheres que têm esse sintoma sofrem com repercussões sexuais relevantes e podem levar anos para chegar a um diagnóstico concludente e tratamento efetivo.

O que pode causar dor na vulva?

A dor vulvar é dividida em dor de origem específica e vulvodínia. Quando o sintoma é associado a doenças, as causas podem ser infecciosas, inflamatórias, hormonais, neurológicas, traumáticas, neoplásicas ou iatrogênicas.

Veja algumas das condições que podem provocar dor na vulva (geralmente, acompanhada de outros sintomas):

  • vulvite (inflamação na vulva, causada pela ação de microrganismos ou por alergia e irritação);
  • herpes genital;
  • líquen escleroso;
  • líquen plano;
  • atrofia vulvovaginal;
  • doença de Paget;
  • câncer de vulva;
  • compressão ou lesão de nervo;
  • trauma obstétrico;
  • outros tipos de traumas físicos — inclusive, relacionados à atividade sexual;
  • síndrome geniturinária da menopausa;
  • tratamentos médicos, como cirurgia e radioterapia.

Por sua vez, a vulvodínia não está associada a doenças específicas, tratando-se de uma condição complexa e, provavelmente, multifatorial. É definida como a dor vulvar, sem causa clara identificável, que tem duração de, no mínimo, 3 meses.

Embora a fisiopatologia da vulvodínia não seja bem conhecida, são apontados alguns fatores que podem aumentar o risco para essa condição, como:

  • comorbidades com outras síndromes dolorosas;
  • predisposição genética;
  • uso de contraceptivos hormonais;
  • afecções musculoesqueléticas da pelve;
  • mecanismos neurológicos;
  • aumento de células inflamatórios no vestíbulo vulvar;
  • fatores psicossociais, incluindo ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e história de abuso sexual.

Quais sintomas podem acompanhar a dor na vulva?

Alguns sintomas e condições clínicas podem ser observados na dor vulvar, tais como:

  • prurido;
  • queimação;
  • vermelhidão;
  • pontadas;
  • manchas;
  • bolhas;
  • lacerações;
  • tumorações;
  • linforreia (vazamento de fluido linfático).

Em caso de vulvodínia, os sintomas mais característicos são: dor vulvar, sensibilidade vestibular, ardor e sensação de “picada”, além do prurido.

A vulvodínia pode ser localizada, generalizada ou mista, provocada ou espontânea. Quando localizada afeta, por exemplo, somente o clítoris ou o vestíbulo vulvar. Já a dor generalizada pode incluir vestíbulo, grandes e pequenos lábios, clítoris, monte púbico e até o períneo.

A vulvodínia provocada pode ocorrer por uso de vestimentas apertadas, inserção de absorvente interno ou aplicador de creme vaginal, exame especular e atividades físicas que pressionam a região vulvar, como ciclismo e equitação, e contato sexual. As mulheres com essa condição chegam a evitar as relações sexuais devido à dor no introito vaginal (dispareunia superficial), que pode continuar por horas ou dias após o intercurso.

A vulvodínia pode ser primária (iniciada na primeira relação sexual) ou secundária (quando aparece após um período de função sexual normal). Além disso, o padrão temporal do aparecimento da dor vulvar pode variar, sendo intermitente ou persistente, com desconforto gradual ou abrupto. A intensidade também é variável, desde um leve incômodo até a limitação de atividades e movimentos básicos, como sentar-se.

Como diagnosticar e tratar a dor na vulva?

O diagnóstico da vulvodínia, em específico, é clínico e feito por exclusão. A anamnese associada ao exame físico minucioso é fundamental, mas nem sempre identifica as causas da dor na vulva.

Com conhecimento e experiência, o (a) médico (a) ginecologista pode identificar sintomas de outras doenças e chegar à causa da dor vulvar. Por exemplo, o prurido persistente e a presença de placas brancas podem indicar líquen escleroso, uma patologia que afeta fortemente a qualidade de vida da mulher, mas demora a ser diagnosticada corretamente.

Exames complementares também podem ser necessários para afastar as causas orgânicas da dor na vulva. Na dúvida, a biópsia e o estudo histopatológico são sempre recomendáveis para auxiliar no esclarecimento da associação com alguma patologia local.

O tratamento é voltado para as causas da dor quando há diagnóstico conclusivo de doenças, podendo envolver abordagem medicamentosa, comportamental e, excepcionalmente, cirúrgica.

Nos casos de vulvodínia, o tratamento é multidisciplinar, uma vez que é multifatorial, e envolve ginecologista, psicólogo, psiquiatra e fisioterapeuta. As condutas podem incluir:

  • orientação sobre cuidados locais, como afastar fatores irritantes, utilizar produtos de higiene neutros e roupas íntimas de algodão, entre outros;
  • uso de cremes lubrificantes na relação sexual;
  • uso de anestésicos tópicos;
  • terapia de reposição hormonal com estrogênio (tópica ou oral), em caso de síndrome geniturinária da menopausa e hipoestrogenismo;
  • antidepressivos e ansiolíticos, quando há fatores psíquicos associados;
  • fisioterapia local;
  • cirurgias para excisões focais;
  • aplicação de laserterapia ou terapias fotônicas.

Podemos destacar as terapias fotônicas, em especial a terapia fotobiomoduladora (PBM) —, a qual pode apresentar resultados clínicos satisfatórios.

Em síntese, a dor na vulva é um problema que afeta significativamente a vida de muitas mulheres. Sendo assim, é fundamental buscar avaliação ginecológica para chegar a um diagnóstico e realizar o tratamento, a fim de aliviar o sintoma, melhorar a função sexual e viver com mais qualidade.

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