O microbioma vaginal é um ecossistema complexo, constituído por diversos microrganismos que produzem compostos bioativos importantes para a manutenção do pH adequado, como ácido lático, peróxido de hidrogênio e bacteriocinas. Assim, essa comunidade confere proteção contra a ação de agentes patógenos oportunistas, prevenindo infecções genitais.
O ecossistema do microbioma vaginal tem a presença predominante de microrganismos do gênero Lactobacillus, além de mais de 250 espécies de bactérias, e fungos. O equilíbrio da população microbiana é essencial para a manutenção da saúde ginecológica, pois reduz a presença de microrganismos invasores, modula a resposta imune e promove um ambiente anti-inflamatório.
Os lactobacilos mantêm a homeostase vaginal e dificultam a colonização de microrganismos nocivos, incluindo os causadores de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Entretanto, a composição do microbioma pode sofrer alterações devido a fatores endógenos e exógenos, quais sejam: idade da mulher, gravidez, uso de determinados medicamentos, atividades sexuais, condições hormonais e imunológicas, alimentação, hábitos de higiene etc.
Quando há disbiose (desequilíbrio) do microbioma vaginal, microrganismos oportunistas podem se proliferar mais facilmente, provocando sintomas desconfortáveis, como prurido (coceira) e corrimento anormal. Nesses casos, também aumenta o risco de vaginoses, vulvovaginites, infecções urinárias, ISTs e até de complicações gestacionais.
Estudos apontam que a vaginose bacteriana, caracterizada pelo crescimento desordenado de bactérias anaeróbias, é um fator de risco para ISTs, incluindo a infecção por HPV (papilomavírus humano), que é o principal causador de lesões precursoras de câncer de colo do útero.
Diante da importância do equilíbrio desse ecossistema microbiano para a saúde da mulher, um método importante de avaliação no acompanhamento ginecológico é o exame do microbioma vaginal, capaz de identificar a composição bacteriana e fúngica com a tecnologia do sequenciamento de DNA.
Em quais casos o exame de microbioma vaginal é indicado?
O exame é indicado quando há indícios de disbiose do microbioma. Também pode ser realizado como parte do check-up de rotina.
As condições associadas a desequilíbrios da microbiota vaginal incluem:
- corrimento vaginal anormal;
- vaginose bacteriana;
- infecções vulvovaginais de repetição, como a candidíase;
- infecção urinária recorrente;
- problemas reprodutivos, como infertilidade ou abortamento de repetição;
- ISTs;
- doença inflamatória pélvica (DIP);
- sintomas de alterações genitais, como dor, coceira, irritação, mau odor, dificuldades urinárias e dor na relação sexual.
Como o exame de microbioma vaginal é feito?
Esse é um exame molecular, realizado com a metodologia de sequenciamento de DNA de alto desempenho, que identifica os microrganismos presentes no microbioma vaginal.
Para a realização do exame, é feita a coleta de secreção vaginal durante a inspeção ginecológica. O procedimento é semelhante ao do Papanicolaou. As amostras para os dois exames podem, inclusive, ser coletadas na mesma consulta.
Algumas recomendações são previamente passadas à mulher, como: não praticar relações sexuais nas 48 horas que antecedem o exame, não utilizar ducha vaginal nem medicamentos tópicos. Além disso, a coleta deve ser feita fora do período menstrual.
Quais doenças o exame de microbioma vaginal pode prevenir ou detectar?
Foi mencionado, acima, um leque de condições associadas à disbiose do microbioma vaginal. O exame pode identificar os microrganismos envolvidos a tais problemas, ajudando na definição do tratamento mais adequado para cada caso.
Dessa forma, vaginoses, infecções recorrentes dos tratos genitais inferior e urinário, sintomas persistentes e até problemas reprodutivos podem ser efetivamente abordados após a detecção dos agentes microbianos.
O exame do microbioma vaginal, portanto, é um recurso de suporte à decisão clínica, permitindo um diagnóstico preciso e a escolha da melhor conduta terapêutica diante de condições diversas — desde uma simples candidíase até uma infecção de maior risco, como o HPV.
Em síntese, o exame do microbioma vaginal é importante para:
- identificar os microrganismos e sua proporção relativa;
- avaliar o perfil do microbioma, associando-o aos sintomas e às patologias suspeitas;
- acompanhar resposta a tratamentos;
- direcionar a conduta;
- fazer a prevenção de complicações decorrentes de disbiose do microbioma.
Com base no exame do microbioma vaginal e em outros métodos de avaliação da saúde ginecológica, é possível desenvolver tratamentos personalizados, os quais podem incluir diferentes abordagens terapêuticas, incluindo as terapias fotônicas.
A terapia fotodinâmica (PDT) e a terapia fotobiomoduladora (PBM) integram as terapias fotônicas, caracterizadas pelo uso das propriedades curativas da luz. São tratamentos feitos com LED (diodos emissores de luz) ou laser de baixa potência.
Quando a doença diagnosticada envolve a ação de microrganismos, como fungos, vírus e bactérias, a terapia fotodinâmica antimicrobiana é a abordagem escolhida entre as terapias fotônicas. O tratamento é feito com um fármaco fotossensibilizante que é ativado pela luz e gera várias espécies de radicais, desencadeando efeitos fotoquímicos, fotofísicos e fotomecânicos e inibe a ação dos agentes patogênicos.
Além de sua efetividade como terapia antimicrobiana, a PDT já é comprovadamente eficaz como tratamento antitumoral. Outros efeitos importantes dessa terapia, assim como da terapia fotobiomoduladora, são: analgesia, modulação da inflamação, ativação da resposta imunológica local, ativação de fibroblastos e reparo de tecidos lesionados.
Por fim, é sempre válido reforçar a importância do acompanhamento ginecológico regular. A realização de exames, como o Papanicolau e o microbioma vaginal, é de grande relevância para manter a saúde da mulher e prevenir complicações.