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Papanicolaou

Por: Dra. Renata Belotto

O Papanicolaou é um dos exames mais importantes no acompanhamento ginecológico. É um procedimento preventivo, pois sua finalidade é detectar precocemente lesões que podem evoluir para o câncer de colo do útero, um dos cânceres que mais afeta as mulheres.

O exame tem esse nome em referência ao médico grego que o desenvolveu, Georgios Papanicolaou, pioneiro nos estudos de citopatologia. Sua primeira pesquisa sobre o tema foi publicada em 1928, mas, somente anos depois, na década de 1940, o exame foi validado para prevenção e detecção do câncer de colo uterino.

Atualmente, o Papanicolaou é recomendado pelas entidades de saúde como parte indispensável do acompanhamento ginecológico de rotina, devendo ser realizado com regularidade pelas mulheres que iniciaram a vida sexual. Portanto, é um dos métodos diagnósticos mais importantes nos cuidados com a saúde feminina.

Quando e como é feito o exame de Papanicolaou?

O exame citopatológico deve ser realizado de forma periódica. Inicialmente, é feito 1 vez ao ano. Após 2 resultados sem alterações, deve ser repetido a cada 3 anos. No Brasil, a coleta inicia-se aos 25 anos de idade e encerra-se aos 64 anos.

As mulheres são previamente orientadas quanto ao período de abstinência sexual, referente às 48 horas que precedem a realização do exame. O uso de medicamentos intravaginais e duchas íntimas também deve ser evitado. Além disso, o Papanicolaou deve ser feito fora do período menstrual, pois a presença de sangue pode desfavorecer a análise citológica.

Após o exame clínico e a inspeção ginecológica habitual, com a paciente deitada na maca em posição de litotomia, o espéculo é introduzido, possibilitando a abertura do canal vaginal e a visualização do colo do útero.

Uma espátula é utilizada para promover leve descamação das células da parte externa (ectocérvice) e interna (endocérvice) do colo uterino. Depois uma escovinha coleta amostras do canal endocervical. A amostra coletada é depositada em uma lâmina ou em meio líquido e encaminhada para o estudo citológico em laboratório de análises clínicas.

Quais doenças são identificadas ou prevenidas com o Papanicolaou?

Esse exame tem a finalidade principal de identificar lesões precursoras de câncer no trato genital inferior, sobretudo no colo do útero. A principal causa dessas lesões é a infecção por HPV (papilomavírus humano).

Há mais de 200 tipos de HPV, a maioria deles não apresenta risco de evoluir para uma doença maligna. No entanto, algumas, como os tipos 16 e 18, têm alto potencial oncogênico.

O câncer de colo do útero é uma patologia progressiva, que pode levar muitos anos para evoluir até um processo invasor e de difícil controle. No decorrer desse período de evolução, as lesões são diagnosticadas, inicialmente, como neoplasia intraepitelial cervical (NIC) de baixo grau, o que significa que apresentam baixo risco de transformação maligna.

Nas fases pré-clínicas da doença, as lesões são altamente curáveis, sendo o Papanicolaou um método de avaliação de papel ímpar para a detecção precoce. As NICs de alto grau podem evoluir para lesão invasora, e o tempo dependerá do tipo de HPV, condição imunológica, presença de outras ISTs, tabagismo, entre outras.

Como proceder aos resultados do Papanicolaou?

A conduta é definida conforme os resultados do Papanicolaou. Quando há alterações nas análises, outros exames são solicitados, como testes de biologia molecular para identificação do tipo viral, colposcopia, vulvoscopia e anuscopia.

Quando o diagnóstico é negativo para HPV, a paciente deve seguir com os exames de rotina após o período recomendado (1 ou 3 anos, de acordo com os resultados dos exames anteriores).

Diante da confirmação de infecção por HPV ou da presença de NIC de baixo grau, deve-se repetir o Papanicolaou, de acordo com a faixa etária, para que a doença seja monitorada, prevenindo sua evolução. Já nos casos com diagnóstico de NIC de alto grau, os demais exames são solicitados, como a colposcopia e, se possível, testes de biologia molecular.

As lesões de baixo risco, muitas vezes, não necessitam de tratamento, apenas seguimento. As NIC de alto grau são tratadas de acordo com a faixa etária da mulher. A abordagem terapêutica pode incluir cirurgia para remoção parcial do colo uterino ou tratamento ablativo em pacientes jovens.

As terapias fotônicas também têm sido estudadas quanto ao seu potencial curativo diante de lesões precursoras de câncer de colo uterino. São tratamentos feitos com a emissão de luz de LED ou laser de baixa potência, com a finalidade de induzir respostas biológicas, incluindo efeitos antivirais e antitumorais.

Nas condições de infecção por HPV e lesões intraepiteliais cervicais, a terapia fotodinâmica (PDT) é a mais efetiva entre as terapias fotônicas. O tratamento envolve a aplicação de um agente químico fotossensibilizante, que é ativado pela luz e gera efeitos citotóxicos, promovendo a morte das células contaminadas.

A terapia fotodinâmica representa um avanço nos tratamentos de lesões precursoras de câncer, pois é uma intervenção não invasiva e sem efeitos adversos — como a perda de parte do colo uterino, por remoção cirúrgica, o que pode prejudicar as gestações futuras da paciente.

A prevenção, no entanto, ainda é a melhor conduta. Nesse sentido, o acompanhamento ginecológico de rotina e a realização periódica do Papanicolaou são indispensáveis para evitar que uma possível infecção por HPV evolua para o câncer de colo do útero.

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